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DesBlogueador de mitos
quinta-feira, março 18, 2004
 
As lições de 11 de Março

O dia 11 de Março de 2004 ficará marcado indelevelmente como o dia em que o “Terror em nome de Deus” atingiu a Europa na sua forma mais espectacular. E atingiu-a de uma forma inesperada, numa nação que, embora habituada ao terrorismo, não estava preparada para aquilo que viveu. Mais do que o como e o porquê, é interessante debruçarmo-nos sobre as consequências, e elas, se assim se pode dizer, são de dois tipos.

A nível interno, e tendo em conta a quantidade de eventos internacionais que Portugal vai acolher nos próximos meses, saltaram de imediato na nossa mente a várias questões: E se tivesse acontecido a nós? Se algo semelhante for perpetrado, teremos nós alguma forma de o evitar? Será Portugal o próximo alvo?

É evidente que corremos riscos. Qualquer nação democrática corre riscos. Portugal apoiou os Estados Unidos na invasão do Iraque, mas podia não ter apoiado, que seria exactamente igual. A única diferença seria a aparente sensação de segurança em que viveríamos, como se, mesmo não apoiando a invasão, não continuássemos a ser uma “nação de infiéis, fraca e libertina”. Seremos sempre um alvo, pois a luta da Al-Qaeda não é uma luta política, como a da ETA ou a do IRA, é uma luta cultural. É a tentativa de impor ao mundo um regime de ditadura religiosa, fundamentalista muçulmana, como a que existia no Afeganistão.

Antes de passar às consequências a nível externo, acho que devo fazer um parêntesis. Eu, muito sinceramente, tive muitas reservas quanto aos verdadeiros motivos que levaram à invasão do Iraque. Não me revia, de forma alguma, no regime iraquiano. Achava que Saddam Hussein era, mais que um mero ditador sem escrúpulos, um carniceiro do seu próprio povo. Também tinha a certeza que, tendo meios para isso, Saddam ir-se-ia armar até aos dentes de armas de destruição massiva. Também não tinha reservas nenhumas que, de uma forma ostensiva, o Iraque albergava, ou tinha albergado, terroristas. Tinha, porém, as minhas reservas em relação aos meios e ao grau de ameaça, externa e interna, que Saddam representava em 2002/2003. E não sabia até que ponto era o espírito libertador que motivava esta cruzada dos Estados Unidos. Posto isto, acho que tenho toda a legitimidade para fazer a análise que vou fazer de seguida.

Perante o atentado, houve uma tentativa do PP de gerir a crise, mas fê-lo de uma forma catastrófica. Tendo a noção de que o conhecimento dos verdadeiros autores dos atentados poderia influenciar os resultados eleitorais, manteve a tese “ETA”, contra todo o tipo de evidencias, até aos limites da insustentabilidade, roçando até o ridículo. Aí está a primeira lição, e que é uma das mais velhas do mundo: ao tentar garantir uma maioria absoluta, o PP espanhol perdeu as eleições. Ou seja, quem tudo quer, tudo perde.

Por outro lado, a esquerda aproveitou e empolou, de uma forma pouco escrupulosa e algo despudorada, o descontentamento popular que se gerou à volta da mentira do governo espanhol. O que deu, sem dúvida, o golpe de misericórdia nas aspirações de Rajoy. Tal como o PP e o governo, o PSOE e a esquerda adulteraram e desrespeitaram todas as regras do jogo democrático, fazendo aquela manifestação, claramente política, eleitoralista e provocatória, na véspera do acto eleitoral, não contra o governo, mas contra o próprio PP. A grande diferença foi que (e eis a segunda lição), neste caso, o crime compensou.

O terceiro ponto digno de nota foi a péssima estreia de Zapatero, confirmando assim a tese de quem o acusava de não ter carisma. Logo na primeira entrevista, não resistiu ao populismo demagógico. Afirmou que a primeira medida que irá tomar é a retirada das forças espanholas do Iraque. É absolutamente coerente com tudo o que disse e prometeu durante a sua campanha (toda ela, de resto, baseada na promessa fácil e desesperada, típica de quem pensa que não irá vencer), mas uma coisa é fazer esse tipo de promessa antes do 11M, outra é fazê-la depois. Antes, a mensagem era: “Não aceitamos que Espanha seja subserviente aos interesses dos Estados Unidos”. Agora, após os atentados, a mensagem é: “Aceitamos, e consideramos legítimas, as exigências de um grupo terrorista e sanguinário, que acaba de matar 200 dos nosso cidadãos”. Ou seja, o terrorismo venceu. Eles viram as suas exigências satisfeitas. A terceira lição foi que, a partir de agora, o medo e o terror são suficientes para determinar o futuro de um país democrático. Para a ETA conseguir a independência do País Basco bastará a morte de 500 pessoas talvez, ou então, quem sabe, com um atentado em Londres, as tropas britânicas retirarão também, e por aí adiante. O terrorismo viu legitimado (e, curiosamente, através do voto democrático) o seu poder!

Voltando às consequências internas. Além do histerismo que vai provocar um atentado destes, dada a sua dimensão, proximidade geográfica, o facto de ter sido efectuado por uma organização de terrorismo global, a semelhança das políticas portuguesa e espanhola no que diz respeito ao Médio Oriente, e o facto de este ano se realizarem em Portugal alguns eventos mediáticos e um acto eleitoral, temos ainda o efeito que estas lições vindas de Espanha vão provocar na esquerda portuguesa. A partir de agora, esta vai comportar-se como um agente catalisador de receios na sociedade portuguesa. Sem escrúpulos, de uma forma terrorista e, tal como Zapatero, moralmente cúmplice da Al-Qaeda, sem respeito nenhum pelas 200 pessoas que morreram. Porque a essas, já não importa a causa pela qual lhes foi roubada a vida, nem quem o fez.

Pela memória das vítimas, interessa sim que nada disto volte a acontecer


 
Ainda o 11 de Março
Mário Soares já deu o mote. Já deixou nas entrelinhas que Portugal deve sair do Iraque, caso contrário arriscamo-nos a ter entre mãos outro 11 de Março (quem sabe um 11 de Junho). Este “Portugal fora do Iraque, já!” é muito semelhante ao “Portugal fora de Angola, já!” de há 30 anos atrás. Agora, após Portugal ter sido (também) responsável por uma guerra civil angolana, que custou milhares de vidas, tornar-nos-emos responsáveis por mais uns milhares se todos os países da coligação saírem do Iraque. Portugal tinha a obrigação, tal como têm agora as forças da coligação, de garantir a autodeterminação de um povo, e não ceder ao facilitismo do “já explorámos, e agora vamo-nos embora, e quem vier atrás que feche a porta”. Esta visão niilista de Mário Soares é a visão dos que defendem que são mais importantes algumas centenas de vidas portuguesas que milhares de vidas angolanas ou iraquianas. Este tipo de visão do mundo tem um nome: Xenofobia! É isso que Mário Soares é, um xenofobozinho sem pesos na consciência, com ares de “prima-donna” que, ainda por cima, julga que é um símbolo vivo da liberdade e da democracia portuguesa.
 
As lições de 11 de Março
O dia 11 de Março de 2004 ficará marcado indelevelmente como o dia em que o “Terror em nome de Deus” atingiu a Europa na sua forma mais espectacular. E atingiu-a de uma forma inesperada, numa nação que, embora habituada ao terrorismo, não estava preparada para aquilo que viveu. Mais do que o como e o porquê, é interessante debruçarmo-nos sobre as consequências, e elas, se assim se pode dizer, são de dois tipos.

A nível interno, e tendo em conta a quantidade de eventos internacionais que Portugal vai acolher nos próximos meses, saltaram de imediato na nossa mente várias questões: E se tivesse acontecido a nós? Se algo semelhante for perpetrado, teremos nós alguma forma de o evitar? Será Portugal o próximo alvo?

É evidente que corremos riscos. Qualquer nação democrática corre riscos. Portugal apoiou os Estados Unidos na invasão do Iraque, mas podia não ter apoiado, que seria exactamente igual. A única diferença seria a aparente sensação de segurança em que viveríamos, como se, mesmo não apoiando a invasão, não continuássemos a ser uma “nação de infiéis, fraca e libertina”. Seremos sempre um alvo, pois a luta da Al-Qaeda não é uma luta política, como a da ETA ou a do IRA, é uma luta cultural. É a tentativa de impor ao mundo um regime de ditadura religiosa, fundamentalista muçulmana, como a que existia no Afeganistão.

Antes de passar às consequências a nível externo, acho que devo fazer um parêntesis. Eu, muito sinceramente, tive muitas reservas quanto aos verdadeiros motivos que levaram à invasão do Iraque. Não me revia, de forma alguma, no regime iraquiano. Achava que Saddam Hussein era, mais que um mero ditador sem escrúpulos, um carniceiro do seu próprio povo. Também tinha a certeza que, tendo meios para isso, Saddam ir-se-ia armar até aos dentes de armas de destruição massiva. Também não tinha reservas nenhumas que, de uma forma ostensiva, o Iraque albergava, ou tinha albergado, terroristas. Tinha, porém, as minhas reservas em relação aos meios e ao grau de ameaça, externa e interna, que Saddam representava em 2002/2003. E não sabia até que ponto era o espírito libertador que motivava esta cruzada dos Estados Unidos. Posto isto, acho que tenho toda a legitimidade para fazer a análise que vou fazer de seguida.

Perante o atentado, houve uma tentativa do PP de gerir a crise, mas fê-lo de uma forma catastrófica. Tendo a noção de que o conhecimento dos verdadeiros autores dos atentados poderia influenciar os resultados eleitorais, manteve a tese “ETA”, contra todo o tipo de evidencias, até aos limites da insustentabilidade, roçando até o ridículo. Aí está a primeira lição, e que é uma das mais velhas do mundo: ao tentar garantir uma maioria absoluta, o PP espanhol perdeu as eleições. Ou seja, quem tudo quer, tudo perde.

Por outro lado, a esquerda aproveitou e empolou, de uma forma pouco escrupulosa e algo despudorada, o descontentamento popular que se gerou à volta da mentira do governo espanhol. O que deu, sem dúvida, o golpe de misericórdia nas aspirações de Rajoy. Tal como o PP e o governo, o PSOE e a esquerda adulteraram e desrespeitaram todas as regras do jogo democrático, fazendo aquela manifestação, claramente política, eleitoralista e provocatória, na véspera do acto eleitoral, não contra o governo, mas contra o próprio PP. A grande diferença foi que (e eis a segunda lição), neste caso, o crime compensou.

O terceiro ponto digno de nota foi a péssima estreia de Zapatero, confirmando assim a tese de quem o acusava de não ter carisma. Logo na primeira entrevista, não resistiu ao populismo demagógico. Afirmou que a primeira medida que irá tomar é a retirada das forças espanholas do Iraque. É absolutamente coerente com tudo o que disse e prometeu durante a sua campanha (toda ela, de resto, baseada na promessa fácil e desesperada, típica de quem pensa que não irá vencer), mas uma coisa é fazer esse tipo de promessa antes do 11M, outra é fazê-la depois. Antes, a mensagem era: “Não aceitamos que Espanha seja subserviente aos interesses dos Estados Unidos”. Agora, após os atentados, a mensagem é: “Aceitamos, e consideramos legítimas, as exigências de um grupo terrorista e sanguinário, que acaba de matar 200 dos nosso cidadãos”. Ou seja, o terrorismo venceu. Eles viram as suas exigências satisfeitas. A terceira lição foi que, a partir de agora, o medo e o terror são suficientes para determinar o futuro de um país democrático. Para a ETA conseguir a independência do País Basco bastará a morte de 500 pessoas talvez, ou então, quem sabe, com um atentado em Londres, as tropas britânicas retirarão também, e por aí adiante. O terrorismo viu legitimado (e, curiosamente, através do voto democrático) o seu poder!

Voltando às consequências internas. Além do histerismo que vai provocar um atentado destes, dada a sua dimensão, proximidade geográfica, o facto de ter sido efectuado por uma organização de terrorismo global, a semelhança das políticas portuguesa e espanhola no que diz respeito ao Médio Oriente, e o facto de este ano se realizarem em Portugal alguns eventos mediáticos e um acto eleitoral, temos ainda o efeito que estas lições vindas de Espanha vão provocar na esquerda portuguesa. A partir de agora, esta vai comportar-se como um agente catalisador de receios na sociedade portuguesa. Sem escrúpulos, de uma forma terrorista e, tal como Zapatero, moralmente cúmplice da Al-Qaeda, sem respeito nenhum pelas 200 pessoas que morreram. Porque a essas, já não importa a causa pela qual lhes foi roubada a vida, nem quem o fez.

Pela memória das vítimas, interessa sim que nada disto volte a acontecer.


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